segunda-feira, novembro 25, 2002

Sol de Platão

Museu da República, hoje, um calor equatoriano e estas três figuras quixotescas capturando em palavras, traços e melodias os moinhos de vento. Procurando uma mesa livre da radiação intensa do sol perguntamos ao garçon para que lado ele, o Sol, está indo. O moço prestativo nos aponta exatamente a direção contrária, insinuando que o Sol se dirigia para o leste!
Olhamos por algum tempo para a cena, aquela enorme estrela lá em cima tostando o asfalto negro cá em baixo, a sombra caminhando lentamente para... para o leste!
Na era da informação, da derrubada de barreiras culturais entre países achamos que estamos livres das ilusão das sombras projetadas no fundo da caverna de Platão. Muitas vezes continuamos olhando a sombra e sequer percebemos isso. Estatísticas, documentários pasteurizados e dramatizações superficiais criam sofisticadas ilusões, mas não passam das mesmas sombras que iludiam Platão.
Aparentemente ando obcecado com as ilusões de Maya.

domingo, novembro 24, 2002

Demian

Lá no palco a brilhante Denise Stocklos soma sua voz dissonante a tantas outras que engrandeceram este país. Ela lá e aqui a lembrança de Demian, aquele de Herman Hesse, ocupa o palco das minhas reflexões.
As vozes de frei Beto, Paulo Freire e Lamarca berram e ecoam no passado e no presente, mas o som se distorce e o poder do seu grito enfraquece. Assim como Galileu nos mostrou que a Terra vagava pelo cosmo ao contrário de estar fixa no seu centro e Darwin provou que até mesmo nossos corpos são mutáveis, inconstantes. Estas vozes dissonantes que Denise nos traz sugerem que a sociedade é como as placas continentais, flutuando sobre o magma, se transformando e se chocando.
Nossa espécie nunca gostou muito de perceber que o solo sob os pés não é firme, poucos se atrevem a enfrentar a inseguança dos mares.
Presos neste medo natural da mudança, na rotina moderna, no cansaço e nos laços de uma mídia acabamos sufocando nossas vozes dissonantes, escolhemos os alicerces do nosso mundo e não os olhamos mais.
A relação entre o menino que pede dinheiro no sinal, o que assalta por um tênis e o que se protege entre os portões de um condomínio de luxo é esquecida, ignorada. É necessária a coragem de se esvaziar das certezas, duvidar do óbvio e encarar atentamente aquilo diante dos nossos olhos, assim como Demian...

quinta-feira, novembro 21, 2002

Laços de Maya

No horizonte um facho diferente de luz se converte em visitante do Universo profundo, um animal estranho no mato logo se deforma enquanto as palavras circulam pelo vento transformando-se em bizarra criatura de vários olhos vindo de outro mundo.
É a fantástica capacidade humana de associar idéias e, principalmente, elaborar suposições à partir de pura imaginação que entram em ação para dissolver todos os mistérios. Afinal o que não entendemos, que não se encaixa no mundo como o percebemos ameaça os seus alicerces, ameaça nosso solo. Aparentemente uma explicação fantástica é melhor que explicação nenhuma.
A jovem que mata os pais pela herança, o marginal que sequestra, o político que se corrompe, sintomas que poderiam apontar para tumores malignos são rapidamente rotulados como monstros ou fruto do pecado original da carne e tratados como uma dor de cabeça. Seja com a pena de morte, com a prisão ou meramente com a máscara do mal estes sintomas são abafados sem que jamais se olhe para a causa.
Entre as sombras Maya nos observa e ri enquanto nos deixamos enrolar nos laços das suas ilusões, enquanto fechamos nossos olhos e nos entregamos às ilusões da criatividade humana que pode ser instrumento ou arma.
Ah! Este é um assunto complexo demais para um blog, não sou capaz da simplicidade que as questões essenciais merecem...
Digamos apenas que é preciso pensar sobre a capacidade da mente humana de encontrar soluções para problemas que não podem ser resolvidos com aquela visão limitada de quem não esteve no olho do furacão.

terça-feira, novembro 19, 2002

Salão dos ecos

As paredes distantes ecoam os passos lentos que me levam para dentro do grande salão. Elas escondem segredos que ainda não consigo decifrar, atrás de mim vejo a entrada ainda tão próxima e ao longe sei que há uma saída que imagino escura e solitária, afinal dizem que no fim da travessia pelo salão da vida estamos todos sós...
Congelados, estáticos sob a luz que entra por janelas de vidro vejo as cenas da vida, estátuas sem movimento e sem som. As cenas que já foram, as que ainda virão e estas mesmas aqui do meu lado...
Em um bar dois bêbados, bocas abertas, vazias de som, maldizem suas famílias atibuindo-lhes as fontes de todos os seus problemas; num quarto solitário chora um menino pois alguém o vê como ele não acredita que é, do lado de fora da aula de balé uma menina entrega sua crítica mais sincera à amiga; entre as quatro paredes de um quarto iluminado pela frágil luz da lua um casal chora dividindo medos e dúvidas...
Olho com mais atenção e vejo, rompendo o silêncio estático, uma pessoa correndo a passos largos de volta à entrada e, quem diria! Sou eu berrando a todo pulmão para sair dali pois aquele é o salão errado e a vida corre solta lá fora onde as árvores murmuram sua música ao vento os pássaros cantam para o sol, as crianças se sujam de terra no parque, as bailarinas apresentam sua melhor coreografia, o menino enxuga as lágrimas e abraça o melhor amigo enquanto os bêbados pedem desculpas às suas esposas!

segunda-feira, novembro 18, 2002

Biscoito da sorte

Será que pasteurizamos demais nossa vida? Os biscoitinhos chineses que antes diziam "a morte caminha pelo rabo do tigre" agora traz dicas para a sena e "o seu amor o espera". Não esperamos mais da vida o sabor amargo do amendoin estragado ou da verdade que não queremos enxergar. Na era do politicamente correto será que não temos cultuado demais fragilidade fugindo da adversidade que fortalece?

domingo, novembro 17, 2002

O mundo sem lentes

Não se pode dar um passo sem esbarrar em alguém, os rostos e as roupas simples, os olhos cheios de tanta espectativa que se enchem de lágrimas. Lá longe há um palco e homens que fazem os últimos ajustes. Tão longe que, esticando a mão à frente do rosto eles se escondem atrás de apenas um dos meus dedos.
- Ah! Se der dez horas e ele não entrar eu vou embora!
São oito horas e quarenta minutos desta noite de lua quase cheia e distantes relâmpagos, o tom suave da frase acima traduz o carinho deste povo simples pela figura que logo entrará de branco (como sempre) para o primeiro show gratuito em muitos anos. Roberto Carlos no Aterro do Flamengo...
Nas lentes grande-angulares da mídia o arrastão que ocorreu ao meu lado, e nem percebi, teve proporções para apavorar milhares, aparentemente a paciência e carinho que reinou escapam à lente suja da mídia.
Há um pedaço deste povo que olha aquela multidão e vê rostos simples, gente simplória com jeito de suburbano. Sob o encanto escuso, obscuro, da tela quadrada (ou wide screen) da mídia que vem pelo ar os traços humildes do nosso povo degeneram em estereótipos jocosos. É um povo forte, puro, sensível, que fala cantando e que esbanja criatividade, um povo que de tanto se olhar no espelho distorcido da tv enxerga um rosto torto ao olhar no espelho.
Hoje vi o povo sem lentes...

sábado, novembro 16, 2002

Confissão

No mar do inconsciente o consciente é uma frágil casca de noz flutuando precariamente. Se não me engando a idéia é de Jung, que foi aprendiz de Freud que todo mundo conhece!
Embora me esforçe para não deixar sequer um dia passar sem que a sua marca seja deixada aqui preciso confessar que não o faço todo dia, alguns amigos já reclamaram que passo seis dias sem escrever e, subitamente, uma semana inteira aparece da noite para o dia!
Minhas sinceras desculpas, no entanto os mares do inconsciente almas vezes sacolejam tão vigorasamente a pequena noz desta consciênci que se torna impossível escrever! Todavia garanto que as marcas de cada dia deixadas aqui pertencem a ele e a nenhum outro!
As deste sábado foram forte! Um terremoto em alguma área remota produziu violentos tsunamis, maremotos, enquanto a pobre noz se preparava para dormir. O domingo (amanhã) foi dia de apreciar a costa devastada pelas ondas implacáveis e entregar oferendas ao mar do inconsciente da única maneira possível: ao lado de um amor verdadeiro.

sexta-feira, novembro 15, 2002

As lanças dos ponteiros

Manhãs de feriado... por mais que nos desdobremos as horas ficam para trás sem que nada aconteça. Olho o relógio e lá estão as quinze horas do dia que já morreram!
Na fazenda dos nossos bizavós um dia destes era oportunidade para ficar simplesmente balançando na cadeira da varanda e mascando um bocado de fumo. As horas se se foram seriam as horas de descanso, entretanto nas selvas de concreto o tempo não pode ser desperdiçado e cada uma destas horas traz um aperto no peito. As doenças da era da informação!

quinta-feira, novembro 14, 2002

Escatologia

Estou no ar, separado do chão por vários centímetros. Lá embaixo um pequeno rio de dejetos humanos escorre para a Voluntários da Pátria. Desculpem o trocadilho vulgar, mas a merda escorria sobre Voluntáios da Pátria!
Não era muita, é verdade, nem acho que os voluntários da pátria estejam tão desprezados assim, mas antes que meu pé tocasse o chão do outro lado eu já estava tomado pela imagem dos Rios de escrementos que fluem sob nossos pés! Em cada bairro centenas de milhares de moradores, cada um fazendo as vezes de pequeno afluente de um grande rio, o Amazonas metropolitano que desemboca em grandes estações de tratamento. Céus! É muita merda!
Quando tudo corre bem os rios escorrem despercebidos sob nossos pés, não mais do que uns dois metros abaixo dos nossos luxuosos Outbacks, Guimas e Shoppings da Gávea. Sob toda luxúria há excesso da merda!
Isso tudo nos leva a Llao Llao, na Argentina! Lá está a propaganda, numca mais do que quatro amigos em uma vastidão de verdes campos e plácidos lagos. É impossível não lembrar de Zardoz (filme de 1960 e tantos com Sean Connery) com os famintos espremidos contra os limites do paraíso construido para abrigar a casta dominante e privilegiada que sequer chega a conhecer a velhice e a morte.
Precisamos aprender com a Terra a não fazer mais merda do que o nosso meio ambiente é capaz de transformar em combustível para a vida...

quarta-feira, novembro 13, 2002

Altares Pagãos

Sempre a velocidade e seu impacto na percepção...
Sob a Rocinha, a maior favela do Rio de Janeiro (e uma das maiores do mundo), passa um longo túnel, uma caverna que atravessa as entranhas da Terra. Um reino para toneladas de automóveis de metal e vida alguma, vida alguma....
Entre os túneis no entanto há várias aberturas que os ligam e numa delas, enquanto o ônibus se arrasta pelo engarrafamento vejo o chão coberto de restos de revistas, alguns utensílios que não posso identificar... é um tipo de ninho ou toca de gente. As coisas distribuidas com o carinho de quem monta sua casa, lá emcima, na Rocinha alguém muda a sua tevê de lugar para pendurar na parede tosca um quadrinho do filho que acaba de se formar no segundo grau, em um duplex em São Conrado, logo ao lado, quatro carregadores entregam um piano de cauda. Enquanto isso ali, no segredo abafado da caverna artificial alguém construiu seu espaço ao redor de um buraco na parede, sim há um sugestivo buraco na parede por onde uma pessoa passaria.
Observando atentamente vejo uma pequena estátua de pé, negra como carvão , olhando para o buraco e então percebo ao seu redor o que parecem oferendas. Então não é uma casa para pessoas, mas uma casa para Deuses, um altar a uma fé tida como esquecida e que reinava em cavernas dezenas de milhares de anos atrás...

terça-feira, novembro 12, 2002

Cabaré Contemporâneo

Maryfê é um destes raros talentos, original sem fazer esforço, contemporâneo sem se tornar chato, vale o esforço!
A chuva quase gelada espremida nesta noite molhada entre os quentes dias de primavera que passaram e os que logo chegarão antecipando e verão faz as onze horas no relógio da Carioca soarem mentirosas ou fruto de uma misteriosa paralização do tempo.
A rua da Carioca segue vazia por mim enquanto o João Caetano vem chegando, apenas o bar Luis pisca insinuante sua última luz, um olho entreaberto se preparando para dormir.
Sempre me fascina ver o deserto em que seconvertem as movimentadas ruasd da cidade quando a lua vem reinar sob o obscuro véu noturno! Ao meu redor apenas um mendigo, o motorista mal vestido entrando em um carro caro e uns poucos, não mais do que seis, garçons ou porteiros desfeitos dos seus trajes formais e agora em roupas simples, de tecido estampado e fino.
A chuva vai apertando enquanto chego finalmente na praça Tiradentes onde luzes artificiais e grandes cartazes laranja com letras pretas tentam trazer um pouco da força diurna para a praça adormecida. Inutilmente!
Somente o burburinho da tribo alternativa à espera das músicas traz o movimento do dia de volta, mas localizado à volta e dentro do teatro Carlos Gomes. Uma ilha de cultura e agitação cercada por toda aquela noite e a chuva lá fora! Sabe, meu bisavô era mercador no deserto do Saara e atravessava escuros desertos para finalmente alcançar os oásis...

segunda-feira, novembro 11, 2002

Fragmentos III

... me fitavam com pureza, o olhar de criança que ri do passarinho se banhando na poça d'água; o brilho puro e vívido, cheio de amor pela vida. Olhar sem intenção, sem julgamento, que abraça e acalenta, que tenta compreender, ajudar e está totalmente ali, naquele lugar e tempo.
O olhar de um amigo muitas vezes é tudo que precisamos para superar um problema, para encontra as forças perdidas ou desenrolar os pensamentos que se embolam com os sentimentos!

domingo, novembro 10, 2002

Casa de Kafka

No palco do teatro Glória Denise Stocklos luta com as ferramentas e a suposta capacidade de comunicação deste engenhoso primata que somos. Impossível não lembrar de Franz Kafka e seu discurso à academia.
Houve um tempo em que os instrumentos de pedra e ossos toscos do homem os auxiliavam, todavia os instrumentos costumeiros tem a péssima mania de se transformarem de servos em mestres e logo não sabemos mais viver sem eles.
Luz, carro, celular, mentira, medo ódio e tantos outros que inventamos para resolver um problema e depois nos agarram em dependências burras.

sábado, novembro 09, 2002

Pequenos passos

Na mitologia hindu o universo é carregado nas costas de uma grande tartaruga, bem lentamente! Desconfio que a mesma tartaruga carrega a humanidade...
Hoje, no show do Poesia de Gaia vi um passinho dela. Lá no palco a música invocava um vulcão alado que pudesse nos chutar para um lugar acima das raças, acima dos credos onde uma sociedade mais justa fosse possível e duas pessoas pudessem se amar. Enquanto isso me ocorria que desde Santo Agostinho (até antes) o amor e as reflexões sobre a sociedade iam para direções opostas. O primeiro geralmente era uma fuga ou um pecado e a segunda sempre vinha com o peso da solidão. É uma pequena mudança, mas os novos heróis ao menos correm mais risco de morrer de overdose de paixão!
Poesia na Fun house
Quero um vulcão alado - a geração que une o amor à consciência

quinta-feira, novembro 07, 2002

A velha elétrica

Este é um daqueles dias em que coisas demais acontecem para caber em um blog só! É um dia que merecia uma ode aos amigos! Depois de ter reclamado tanto uns dois meses atrás agora é hora de agradecer pelo apoio que recebi!
Acontece que algumas cenas não podem passar em branco!
O Rio é rico em edifícios de arquitetura original, aqueles prédios antigos que se enrolam em labirintos ou nos surpreendem com andares fantasma ou até praças! Esta história acontece em um destes!
Saio do elevador no último andar, o hall à minha frente é enorme, mais tarde descubro que não é um hall, avisado por uma placa descubro que é uma praça! Pois é, em cada andar uma pracinha para os moradores fazerem seus passeios.
Pelo jeito ao menos um deles leva a sério, pois lá está uma velhinha, bem velhinha numa cadeira de rodas virada para a parede. Achei esquisito, parecia um boneco esquecido por alguma criança depois das brincadeiras da tarde... Continuei meu trajeto, fui fazer minha visita e pedir um favor, um dos grandes de hoje!
Mais tarde saio por uma porta que dá diretamente para a pracinha e lá está a velhinha, atrás de uma árvore plantada num vaso. Agora ela está virada para a janela, antes não se movia, agora já fazia movimentos lentos como quem acorda de um longo sono... É então que noto, há um fio preto ligando a velhinha à tomada! Quem diria! E diziam que não tinha mais nada a inventar! Agora tem gente recarregável!

quarta-feira, novembro 06, 2002

Sem energia

"Vivemos para trabalhar ou trabalhamos para viver?"
A energia nos falta depois de jornadas de oito horas de trabalho, mais as três ou mais que são necessárias para atravessar o trânsito coagulado da cidade! No final do dia não acreditamos que somos capazes de fazer nada além de ligar a tv e deixar o cérebro em coma por uma horinha ou duas antes de levar a mente para o esquecimento do sono!
Enquanto isso um exército de cigarras trabalha duro para nos trazer música, dança e arte!
A triste fábula das formiguinhas que trabalham, as cigarras que cantam e a felicidade que nunca se alcança! Quem quer que tenha inventado esta história (foram os irmãos Green?) só perde para quem fez a versão politicamente correta!
Mas não era nada disso que eu pretendia escrever! Vamos mudar o rumo desta prosa!
Andamos cansados e já duvidamos que valha a pena se dar ao direito de ir a um teatro (está muito caro!), um espetáculo de dança (existe isso?) ou a um show (para escutar porcaria?). Diante da falta de fé generalizada que assola o ocidente acabamos perdendo um bocado do gosto pela vida! Tenho tentado mostrar que há teatro bom e barato, a dança contemporânea cresce no Rio e há muito música boa fora do circuito de consumo fácil das rádios, entretanto percebi que não basta escrever! Tem que ligar!
Ligar! Pegar o telefone e ligar! A voz amiga do outro lado acaba injetando energia, fazendo lembrar que nada alivia mais do que uma volta com os amigos, do que o estímulo dos sentidos com coisas novas ou diferentes!
Que tal escolher agora um programa para assistir desconectar agora e ligar para três amigos que ligarão para outros três?

segunda-feira, novembro 04, 2002

Ainda as ágoras

Cuidar do corpo e da mente dá um trabalho, não é? Bem, fazemos o possível! E lá estava eu, calor de verão no meio da primavera, saindo da academia depois de umas duas horas de exercício para beber um suco revigorante na tal ágora que não concordo que seja uma ágora, o shopping!
Antes de entrar toca o telefone, era o raio de luar das noites da minha vida, minha esposa! Me detenho por alguns segundos falando com ela e aproveitanto o vendo que promete chuva mas não cumpre.
Entro pelo shopping aproveitando a face comércio das ágoras ainda sem perceber... Subo as escadas, chego à praça de alimentação e quem encontro? Além do meu belo sobrinho, claro? Outra tribo fazendo ali sua ágora, jogadores de magic, antes era bafo, agora é magic, mas lá estão os jovens reunidos, tem que pensar bem mais do que para jogar bafo, mas o que conta ainda é o encontro, a beleza das figurinhas e, claro, ganhar! ;-)

domingo, novembro 03, 2002

Ágoras Modernas

Ágora é praça gente! Quando o sujeito quer parecer diferente e não sabe como ele arranja uma palavras doidas e manda ver... Crente que está abafando! ;-)
Na verdade era uma praça diferente, grega, entende? Tudo é diferente quando há um oceano a nos separar! Eram centros de mercado, e por isso tem gente que diz que os shoppings são as ágoras modernas, besteira! Também era onde aconteciam assembleias populares, tipo a Cinelândia aqui no Rio.
Pessoalmente sempre gosto de pensar nas ágoras como algo mais prosaico! Aquela pracinha no velho Bairro Peixoto onde acontecia a feira no domingo, onde as crianças (inclusive eu) jogavam búlica ou andavam de patins e os velhinhos disputavam suas damas, de tabuleiro!
Como não sou Casimiro de Abreu (Oh! Que saudades que tenho, da aurora da minha vida) realmente acho as ágoras modernas mais interessantes! Não são assim, tão diferentes, hoje mesmo vinha entrando nos jardins do Museu da República e lá estavam os balcões com revistinhas. Antes eram do Tio Patinhas ou do Mickey, agora são Sakuras e Vagabonds e mangás para todos os gostos. Mais adiante uma horda de metaleiros, camisas negras, correntes, maquiagem pesada neste belo dia de sol primaveril! E todos gritando como qualquer criança de 16 anos de short sujo e blusa esgarçada. Só um pouqinho mais à frente vemos uma esposição de fotos e logo adiante dezenas de velhinos cantam as músicas da sua juventude.
Ah! Isto sim é uma ágora!
Os jovens metaleiros, é verdade, envergonham os metaleiros originais, mas estão ali, buscando seus caminhos, encontrando com seus iguais para falar de mangá, RPG, música e, nas entrelinhas, bem nas entrelinhas, talvez, sobre rumos...
Os velhinhos nos trazem a inevitável e assustadora pergunta: o que tocarão os velhinhos dentro de trinta anos?

sábado, novembro 02, 2002

Dia de Limpeza

A gente devia limpar a cabeça todo dia! Acontece que na correria diária, entre um cinema e o trabalho, um beijo e a tv acaba não dando tempo. Até que um dia a gente pára, olha para os lados e vê as plantinhas crescendo lentamente, o ar estático e quente, nada na tv, quente demais para passear. Então olhamos nos olhos do outro, lembramos o quanto estamos todos tão distantes exatamente na era em que as distâncias desaparecem sob a velocidade da internet e da telefonia celula, e choramos...
Mas não se entristeça! Desentupir é assim mesmo! Olhamos a sujeira que está lá, abrimos o sifão e jogamos aquilo tudo no balde! Pelo menos depois sai um comentário no blog que pode valer para alguma coisa, certo?