quinta-feira, outubro 31, 2002

Águias e Leões

Vou ao cinema e vejo em imagens o livro que moldou minha infância, O Senhor dos Anéis, e lá estão o valor da amizade, a honra e a coragem que tantas histórias, poetas, filósofos, heróis e teólogos nos mostraram mesmo antes que pudéssemos falar e escrever. Então porque vejo lágrimas nestes olhos que me fitam, que transbordam a falta que faz o apoio de um amigo num momento de necessidade? Pode ser uma necessidade fácil, destas que só pedem um abraço e uma hora de companhia, mas é a sua necessidade e um amigo não substitui outro. E seus passos seguem pelas ruas mais escuras que de costume, a lua mais pálida do que de costume, o coração mais duro que de costume...
Há quem compare nossa espécie às esfinges, nossa razão seria representada pela águia, nossa emoção pelo leão, o instinto pelo boi e a serpente (algumas tem uma serpente ao redor da testa) para o espírito. Grande parte dos problemas da humanidade seria a dificuldade de comunicação entre estes bichos e, talvez, a nossa arte e sabedoria transmitida pelos heróis hora fale ao leão, mas não à águia para outra hora ocorrer o oposto. E assim nos deparamos com os paradoxos como o amigo que faz sofrer enquanto um desconhecido vem nos apoiar.

quarta-feira, outubro 30, 2002

Mecas modernas

Shopping centers, as modernas mecas para onde converge grande parte do fluxo das veias das grandes cidades modernas. Cercado pela cacofonia de vozes, risadas e músicas, pela profusão de cores de roupas e de cabelos é difícil imaginar que a esmagadora maioria da população mundial jamais viu um shopping, que suas mecas são o campo de cana ou de arroz ou uma fogueira ao ar livre ao redor da qual cantam e dançam sua cultura, talvez não tenham nada a invejar.
Pois lá estou no caos da nossa meca acompanhado do meu ilustre sobrinho, já um adulto com pouco mais de um ano que se recusa a ficar sentado no seu carrinho preferindo usá-lo como apoio para os passos ainda inseguros.
As enormes pessoas que circulam à sua volta, as luzes e a mistura de sons certamente apavorariam ou pelo menos deixariam confuso qualquer homem do campo, aliás, várias pessoas da cidade também fogem destas aglomerações, mas não o pequeno adulto ao meu lado! Perfeitamente inserido em seu tempo ele passeia pelo seu quintal!

terça-feira, outubro 29, 2002

Idades

Quando temos 11 anos, 11 anos é tudo que temos! Nunca tivemos 14, 17 ou 27.
Os anos se acumulam, mas muitas vezes esquecemos dos anos passados, temos 35 anos e 35 anos é tudo que temos! Cansaço, medo da velhice e rancor é o que temos. Ah! Isso não pode ser!
Onze anos... Verão carioca. Um destes dias que não nos escapa da memòria! O Fusca bege, os amigos do Bairro Peixoto e o sol amenizado pelas grossas nuvens e o fim da tarde. Já não lembro do que falávamos, mas era sério! Então cai a primeira gota de chuva, grande e pesada. A enchurada que segue não nos espera sequer comentar que vai chover! Percorro correndo os vinte metros até o meu prédio, mas a força das águas não perdoa e chego totalmente encharcado e encantado!
Vinte e quatro anos depois espero o ônibus, é primavera, mas a ironia do tempo não tem estação! Entro no ônibus, busco o trocado, pago e vejo pela janela uma chuva torrencial surgir e desaparecer em segundos. Naquele instante tive novamente os 11 anos deslumbrados!

domingo, outubro 27, 2002

O processo coletivo

Último domingo do mês, Denise Stocklos no teatro Glória, bem ao lado de casa, por apenas um Real! Ah! não dá para perder algo assim! Pego o telefone, agenda na outra mão, e desato a ligar para os amigos para compartilhar com eles o prazer de um bom espetáculo. Entre os que já se deixam vagar meio mortos pela vida e não se dão ao direito de abrir os olhos e os que não perdem uma boa chance se surpreender acabamos juntando dezessete.
E lá estou eu, bilheteria aberta apenas há 20 minutos e já uma fila saudável. Faço os cálculos, conto e reconto as pessoas que irão, treze, toca o telefone, ah! Mais duas, ok!
Aquele murmurio indefinido percorre a fila, gente comentando o último espetáculo um ano atrás, as prévias da votação para presidente, o limite de quatro ingressos por pessoa! Como! Ahhh! Toca novamente o telefone! Mais duas? Tudo bem!
Olho para a moça bem à minha frente na fila, nossos olhos se encontram, ambos buscando um brilho de simpatia, ela toma a dianteira...
- Quantos ingressos vcê vai comprar?
- Ahaha! Ia lhe perguntar a mesma coisa!
- Eu preciso de oito! - Os olhos arregalados de quem imagina se vai conseguir!
- É, preciso, bem, de dezessete, sabe?
Amigos de fila, papos de fila, mais tarde os encontros com os amigos de sempre, alguns sumidos que reaparecem, e os novos amigos de fila, piadinhas e o prazer de viver em uma terra onde o riso é fácil, a conversa é bebida que desce fácil e fresca pela garganta e o espírito é leve.

Prioridades e Cérebros Eletrônicos

Pobre blog, foi deixado de lado, esquecido por cinco dias.
Oganha-pão pecisava de atenção, muitos textos a escrever, pensamentos a materializar.
É necessário pedir desculpas a esta meia dúzia de leitores que encontram algum prazer ao ler este blog.
Sou um ser de três cabeças, uma delas, um PC normal, Windows, Linux e saudades do OS/2. Esta não é minha cabeça principal! Ela é a ultima fronteira entre as outras e o mundo, vasto mundo e minha meia dúzia de leitores!
A outra é discreta, um pequeno Palm onde escrevo a maior parte das minhas linhas. Tudo que um dia esteve nesta outra cabeça eletrônica acaba saltando para a primeira e ganhando o mundo, mas existe ainda a terceira, a que jamais me deixa na mão embora esqueça algumas coisas de menor, e até outras de maior, importância...
A terceira é esta que todos ganhamos das artimanhas da seleção natural e confesso que muitas vezes guardo apenas nela meus blogs e muitos, a maioria deles, acabam mergulhando nas vastidões do inconsciente!
É lá, nestas vastidões, que o final de semana ficou! Mas posso dizer algo sobre estes tres dias...
Na sexta me perdi;
No sábado alguém me achou;
No domingo me esqueci...

sábado, outubro 26, 2002

Mutirão

Pululam pela Rede mensagens fofinhas sobre amizade, cachorrinhos e bebês ilustram frases batidas e ingênuas, amizade mesmo é estar lá do lado, é abraçar, escuta e dar um bocado de suor pelo amigo, não tem palavras, tem ações.
Olho para as paredes da minha casa, a tinta escorrida, as falhas, a sanca sem pintar me fazem lembrar do valor da experiência, que não temos!
Ley e Juan, amigos, mas poderiam ser anjos! Ops! Olha lá o efeito colateral das mensagens fofinhas! Bem, amigos queridos, destes que nos ajudam e a quem ajudamos sem pensar, sem medir, apenas pelo prazer de estar juntos!
No meio dos problemas contemporâneos que nos assolam a todos arranjaram um espaço para se sujar de tinta, pinta meu nariz de amarelo, né Ley? arrastar móveis e finalmente devolver a esta casa uma aparência digna! ;-)
Em geral este é um espaço anônimo, mas há preciosidades que devem ser nomeadas! Não é gratidão pelas paredes pintadas, é o prazer da companhia, é a sinceridade da boa vontade...

sexta-feira, outubro 25, 2002

Dia dos mortos

Venho de ônibus pela orla do Rio, o mar revolto na Barra, o vento forte arrancando carneirinhos brancos das cristas das ondas. Misturados na areia os paraquedas especiais que puxam pranchas pilotadas porsolitários homens grisalhos ou jovens em suas sofisticadas roupas de mergulho, grupos de suburbanos fazendo aquela velha farofa e finalmente os pagodeiros nos quiosques.
O sol forte, mas suave, da primavera desperta o milagre da vida cobrindo a cidade de flores e verdes folhas. O pólem no ar faz alguns espirrarem mais do que o de costume e outros, como eu, sentir a garganta arranhar.
À porta da Rocinha os estudades da rede pública, sorrisos largos nos rostos alegres, se cumprimentam. Uma menininha que vem dizer olá e coberta de expressões de carinho.
Acampanhado de tantas cenas de vida a hora de engarrafamento que me espera entre a Gávea e Botafogo passará bem mais leve.
No meio do caminho continuo assistindo o desfile de gente colorida, as cores ficam mais vivas na primavera, pelas calçadas movimentadas do Rio quando um grupinho de seis meninas, lá pelos seus onze anos, passa de rostos maquiados, faces empalidecidas, olheiras profundas bem desenhadas, as roupas de vampiras, esqueletos e outras coisas sinistras e obscuras. Só então me dou conta, Dia dos Mortos...

quinta-feira, outubro 24, 2002

Botequins

Botequins...
Quem já participou de uma partida de RPG entende bem os botequins! Terras sem dono onde homens e mulheres soltam a voz rindo e falando alto! Entifadas barulhentas para afastar o recato da rotina diária! Salgadinhos gordurosos e bebidas fortes dão as últimas pinceladas neste quadro que poderia ser de uma taberna medieval, tirando os piolhos e o forte cheiro de lenha queimada misturado ao suor rançoso das pessoas...
Sob o ventilador, mesinha para dois, bolinhos de bacalhau, batatas fritas e toda aquela vontade de comer bem mandada às cucuias! Ah! Mas há dias para voltar no tempo, se enfiar em um boteco e tentar conversar (disputando com o rumor do ambiente) com a mulher cujos os ouvidos que sempre te escutaram, e os lábios sempre trouxeram a suavidade do beijo ou a dureza da verdade sobre as coisas boas e ruins da vida!
Manuel e Juaquin mandam lembranças!

quarta-feira, outubro 23, 2002

Para não dizer que não falei de flores

Na era da velocidade tudo passa rápido, tudo passa raso, tudo passa! Na falta de amigos chamamos assim os colegas que nos acompanham nas noitadas, no cinema e, ocasionalmente, oferecem um ombro às nossas lágrimas... "Tu vai ficar bem rapaz! Vamo tomá uns chopps e partir pra outra!" e tudo se resolve, fast food...
Para alguns tudo isso é diferente, o mundo ainda passa rápido, mas não passa raso! Na mesma mesa onde outros se esquecem da vida estes abrem seus corações para críticas sinceras, se olham nos espelhos dos olhos dos amigos sem desviar o olhar, olham com coragem ainda que seus erros sejam grandes...
Eles nem sabem, eu era um intruso invisível, mas gente como eles mantém acesa a fé na alma humana...
Se algum dia eles passarem aqui espero que saibam o quanto os admiro!

terça-feira, outubro 22, 2002

Jornadas Urbanas

Um dia nem tão cheio, mas certamente um dia de contrastes...
Continuo achando o mundo mais nítido de ônibus que de carro. Vim de Campos Elíseos (não o grego, o carioca) em um destes quentões, felizmente o tempo já estava mais fresco. Ao redor os vastos terrenos baldios separavam moteis, fábricas de móveis e o enorme edifício do Jornal O Globo.
Demorei menos para deixar aquelas terras que parecem de outro estado do que demoro para voltar da Barra da Tijuca, o extremo oposto, não geograficamente, mas visualmente.
São tão estreitas as fronteiras entre os diversos territórios cariocas. O morador do morro trabalha na loja chique do shopping, a moça criada na praia de Ipanema trabalha entre a Cidade de Deus e Água Santa...
Neste poliedro urbano são milhares de faces e nichos culturais, sociais, econômicos, geográficos...
O dia já posto, a chuva intermitente, a última parada desta jornada, Sérgio Porto, o centro cultural no Humaitá em um CEP qualquer. Embalando-se entre poemas bem traçados e o ritmo alucinado da batida lisérgica do Gerador Zero, a coloração única de Maryfê e Fábio F0 ou as experimentações do movimento do grupo nome está uma outra tribo, habitantes da noite que certamente encontram anônimos com os personagens de cada trecho desta minha jornada ao atravessar as várias intersessões entre estes conjuntos abstratos...

quinta-feira, outubro 17, 2002

Fora do ninho

O cuco... A realidade crua das leis da vida insistem em nos dar sinais da sua natureza. Cucos não fazem ninhos, eles aproveitam a ausência dos pais, chegam sorrateiros, jogam fora os ovos dos outros e colocam os seus para serem chocados por eles e partem, desaparecem.
São fenômenos assim que colocam pássaros azuis em ninhos de pássaros vermelhos.
Jokey, baixo Gávea, point conhecido de neo-grilos, eu devia ter imaginado...
O desfile intenso, os papos nos celulares, "Ai Manéééé!" e a fumaça de cigarro. Poderia ser uma enfadonha palestra no auditório de uma faculdade de elite, mas lá na frente havia uma tela de cinema, a maior do mundo, e nela Fellini! Quem diria!
É claro que muitos estavam atentos ao filme, mas a minoria que insistia em ir e vir era considerável e chama a atenção! O que faziam estas pessoas lá? Buscavam mesmo novos interesses ou buscam apenas se manter na moda?

quarta-feira, outubro 16, 2002

Águia de Haia

"No século das armas a justiça ainda é o maior poder"
O século em questão era o início do XX, em cinco anos serão exatos cem anos.
Depois disso tivemos duas guerras mundiais, a corrida armamentista e o ressurgimento da Pax Romana, agora Pax Estadunidense, imposta pela força das suas legiões combatendo bravamente os Hunos e criando novos Átilas. Realmente a história se repete!
E o que diria hoje nosso Rui Barbosa? Choraria os ideais perdidos? Amaldiçoaria o presente e louvaria o passado?
Atrás daqueles vastos bigodes duvido que se esconcesse uma criança que senta e chora pela atenção dos pais, vejo antes aquelas (pois crianças somos todos) que secam as lágrimas depois de cair, levantam sobre os pés nus e empoeiados e buscam o caminho de volta ao que se perdeu e do que ainda se tem a conquistar!

terça-feira, outubro 15, 2002

Novamente à missa

Há tudo de bom e tudo de ruim em toda parte! A única regra parece muitas vezes a excessão!
Os valores mudam e o que era belo fica feio, o que era errado já se aceita e o que era certeza inabalável perde a cor e se torna cinza chumbo como as velhas paredes branco gelo...
Assim é com a cristianismo! Fora dos meios religiosos é difícil quem não fale do peso da culpa cristã. Incluindo eu mesmo!
No entanto, atendendo a convite irrecusável, retorno à platéia de uma missa, a dos Quilombos.
Podemos questionar muito do espetáculo, um bocado das idéias. Pode ser que apele para o emocional e que simplifique problemas que escondem muitas complexidades, no entanto, a beleza plástica, o impacto das músicas e, principalmente, a preocupação social e humana legítima merecem mais palmas do que sou capaz de emitir! E merece meus pedidos de desculpa e meu reconhecimento de que, sob o pó de 2000 mil anos de culpa ainda há muita responsabilidade....
Infelizmente este foi o último dia do espetáculo, mas sua forma mais crua pode ser vista todos os dias. Basta ter coragem de olhar bem pela janela do carro ao parar nos sinais.

segunda-feira, outubro 14, 2002

Muro

Foi a doze anos, talvez treze. Nesta época minha estrada era de água e as correntes oceânicas governavam o tempo entre os meus encontros com o amor da minha vida. Literalmente!
Cuba estava à minha frente, minha casa ficava para trás, 13 milhas a cada hora e então caiu o muro, em movimento popular, dizia um telex de duas linhas. Era o muro de Berlim.
Depois de 13 anos os muros são tão altos e cruéis quanto aquele, mas de material muito mais sutil, são feitos da surdez dos sentidos e da cegueira da razão abafada pela saturação dos sentidos.
Desta vez a estrada é de asfalto e a nau tem seis rodas. À frente um lado do muro, atrás o outro. Uns entoam seus cânticos paroquiais ou um ritmo da periferia, os outros permanecem imóveis aparentemente alheios aos colegas de trabalho, afinal é uma nau de funcionários de uma mesma empresa, mas uns vivem sobre a superfícei enquanto os outros se afundam nas entranhas da Terra.
Me pergunto quem são os Morloks e quem são os Eloi, não estou muito certo, e vc?

domingo, outubro 13, 2002

Primeiros Passos

Um ano de idade! Quem se lembra das próprias reflexões nesta época envolvida naquela nuvem escura que a memória não alcança?
Domingo no parque com nosso sobrinho que de tão lindo faz todas as cabeças se virarem!
Do outro lado do parque, longe dos nossos ouvidos, aquelas músicas infantilizadas e irritantes, mais tarde vimos que nem as crianças gostam!
Timidamente nosso pequeno se atreve aos primeiros passos, ainda esperando a segurança da mão adulta, mas logo aprenderá que não precisa mais de apoio para isso!
Estamos sempre dando primeiros passos em alguma direção, e como é importante o apoio de amigos em que podemos confiar!

sábado, outubro 12, 2002

Feriados

Se por um lado algumas profissões oferecem a vantagem da flexibilidade de horários e da liberdade na escolha de caminhos elas tem a desvantagem de perder parte do contato com os ritimos da maioria!
Hoje fomos em busca de novas mesas e de presentes para o sobrinho de uma amiga especial!
Ah! Hoje era feriado! ;-)
Ao menos este foi um dia com pompas e circunstâncias de feriado nacional para nós!
TIvemos o prazer de visitar em Braz de Pina uma bela casinha, roubada provavelmente de um conto de fadas, quem sabe da viagem de Chihiro? Uma casinha povoada de boa gente, destas que nos faz lembrar de como a vida realmente é!

sexta-feira, outubro 11, 2002

Dias de trovão

Shakespeare e seu Próspero governando a fúria dos elementos! Diz-se que o mundo não é dos fracos, mas quem controla as tempestades? Quem é capaz de manter o coração tranqüilo quando o trovão inrrompe no quintal da casa fazendo as paredes tremerem?
A inocência de Miranda, à parte das artimanhas da inveja e das paixões da ganância precisa estar lá para invocar nossa própria pureza, nos lembrar que há sempre um Sol acima da tempestade e que o abrigo seguro da ilha pode estar logo alí, apenas algumas braçadas de distância e um pouco da ajuda de Ariel, o vento.
Quisera eu ser Próspero e ter sob meu poder os segredos da tempestade para proteger os meus! Ao menos que eu possa lhes oferecer o abrigo da minha ilha!

quinta-feira, outubro 10, 2002

Sob a luz da lua

Dizem que o sol brilha para todos, nos esquecemos da suavidade da Lua...
Ao contrário do Sol podemos fitá-la diretamente e deixar que nossos olhos se percam em sua pálida suavidade. Assim como se perdem nos olhos da pessoa amada!
A Lua nos espera paciente no céu escuro enquanto no dedicamos às nossas jornadas preocupados e perdidos, guiados apenas pela sua luz!
Ela é amante e amiga sabe nos cobrir com o véu noturno como se cobre uma criança e nos envolver em seu colo como as mulheres aos seus guerreiros cansados...
Neste dia abro uma outra excessão a este blog (onde raramente são citados nomes) para homenagear a Lua que me ilumina nos últimos dezessete anos!
Ao meu amor, Cocky...

quarta-feira, outubro 09, 2002

As dores da Timo

Um amor perdido, uma traição, a saudade e o reencontro de um grande amor... Lá no peito aquele oco, a sensação de falta de ar quando o coração some e o pulmão é sugado para o espaço vazio... Dizem agora que tudo isso é coisa desta obscura glandulazinha, a Timo ...
Sei lá!
Só sei que esta glandulazinha vive protagonizando as mais curiosas comédias humanas!
Ainda estes dias amigos da onça, a título de vingança, tornaram pública a dor de uma jovem traida pelo amor ao promover uma onda de impropérios no mural de uma banda de música .
Um festival digno de Dante! De um lado a menina, provavelmente querendo esquecer tudo, de outro seus alegados amigos espondo sua miséria (da amiga e deles mesmos, como escreviam mal nossa bela lingua!) e no meio os fãs da banda que nada tinham com o sórdido espetáculo sendo obrigados a uma versão pobre (pode ser mais pobre?) do Big Brother!
As paixões humanas são um paradoxo: catalizam o melhor e o pior da nossa espécie!

terça-feira, outubro 08, 2002

Paisagens Borradas

'O fino véu que separa a fantasia da realidade...'
Mais fino que este véu são as brumas entre as realidades. Basta andar um pouco mais devagar, olhar para o outro lado e se desfazem os estereogramas de realidades mais sutis deixando as imagens de mundos mais reais.
Barra da Tijuca, nosso oásis consumista! Meus passos lentos acompanham meus ouvidos atentos. Um terreno baldio, um restaurante abandonado coberto de compensados, as poucas pessoas na rua caminham em roupas simples, a sacola de mercado com seu pequeno amontoado de coisas... Paisagens boradas, nada mais do que um fundo desfocado para os caros automóveis que passam ligeiros!

segunda-feira, outubro 07, 2002

O Alazão e o Sheik

Carros estragam o mundo! Escondem dos nossos olhos os pequenos detalhes nas bordas da vida, ou no seu miolo já que os que vão com pressa certamente vivem menos dos que vão calmamente!
Saio do moderno prédio, novo e luxuoso, daquela grande empresa de petróleo. Vou mais uma vez seguindo meus passos, buscando meu caminho de volta ao mundo.
O sol de primavera que estes dias tosta a terra como se fosse o mais alto verão torna ainda mais vasta a enorme distância entre aquele pequeno grupo de prédios e os espigões da Barra da Tijuca. Estou saindo de uma ilha de poder cercada de manguezais por todos os lados...
Que estranha pororoca de realidades!
Às minhas costas edifícios erigidos em homenagem ao capitalismo à frente, apenas alguns metros, um velho alazão, comendo sua grama, uma grande ferida na barriga, talvez um berne cujas larvas logo eclodirão libertando centenas de moscas...
Será que o luxo atrái o tosco? Ou será o contrário?

sábado, outubro 05, 2002

Corpo, escultura em movimento

Seja por preconceito, seja simplesmente por não lembrar que existe, nos alienamos de tantas coisas... Do filme de arte, da música clássica, do sushi, da realidade dos que vivem na rua...
Lia Rodrigues, a companhia de dança contemporânea, no palco um espetáculo sem par dos seus integrantes! Mostrando no corpo formas inesperadas.
Alguns trabalham a palavra moldando-a tão habilmente que nossa imaginação se liberta e voa para regiões inesperadas. Como leitor compulsivo sei bem disso, mas não sabia que o corpo humano poderia ser moldado da mesma forma!
Foram conosco algumas pessoas que jamais tinham assistido a um espetáculo de dança. Todos adoraram apesar do espetáculo ser dos mais herméticos, provando mais uma vez que brasileiro gosta de boa cultura, é só ter acesso a ela!

sexta-feira, outubro 04, 2002

Um rasgo

Minhas enxadas e arados andam pesados... Este aqui é um espaço onírico protegido pelo fino véu do devaneio, mas há momentos em que as brumas se abrem e o rude mundo se intromete até nos sonhos!
Uma esquina qualquer, um bando de adolescentes e seus jogos de poder, seus ensaios para mostrar quem é o mais esperto. Um faz chacota do outro, relembra uma linha cuidadosamente decorada do livro de geografia do ano passado. Outro se defende lembrando aquele amigo esquisito do seu colega. Um terceiro se faz de esperto corrigindo os erros dos outros.
Ah! Eu passaria rindo não fosse esta esquina o debate dos nossos candidatos a presidente! Voto na esquerda cheio de temor e certo de que nenhum deles inspira maturidade o bastante para reger um país...

quinta-feira, outubro 03, 2002

Rotos e...

Olhando o pobre boia fria escravizado atrás da enxada e do tosco arado podemos nos compadecer ou virar o rosto, mas dificilmente nos sentimos em posição semelhante, olhamos para nossas vidas e não vemos enxadas ou arados...
'Aqui nós num vive, nós passa' - podemos ler nos seus rostos.
Olhando um executivo moderno, cercado de planilhas impressas, caixas postais repletas de emails por ler e apresentações redundantes até mesmo um boia fria pode se compadecer daquele pobre infeliz que não tem tempo para ser gente.
O mote é outro, o sentido o mesmo:
'O stress é o vento que insufla as velas da corporação'

quarta-feira, outubro 02, 2002

Prismas

Certos diários são prismas que decompõe o mundo conforme nossa visão, limitada como quem olha através do buraco da fechadura para um palco grande demais!
Na esquina uma muretinha protege a árvore e serve de banquinho para velhinhos que jogam truco; passa um vento e somem os velhinhos dando lugar aos skates que infestam as esquinas do Catete; bate outro vento e uma curiosa cadeirinha de balanço, de madeira não passa da parte de cima de uma cadeira e, no lugar das pernas um par de arcos para permitir o balanço. Sobre a cadeirinha, o olhar perdido nos carros que xispam ligeiros pela rua do Catete, uma velhinha joga para lá e para cá como se o mundo fosse um barco e a levasse para visitar a prima do outro lado do rio...
Aquela muretinha vê um pedaço do mundo passar sem ver de onde veio ou para onde vai, resta-lhe apenas imaginar as histórias que se escondem atrás de cada fragmento!

terça-feira, outubro 01, 2002

Mês novo, roupa nova! Obrigado Carol!

Sol e calor até quarta-feira, 0% de possibilidade de chuvas no Rio de Janeiro! Era o que anunciava o Climatempo até ontem! Hoje a coisa já muda de figura e o vento forte lá fora faz as palmeiras sussurrarem seus segredos e o Pau-rei, ruidoso parece comandar as nuvens negras que se reúnem ao seu redor!
A Mãe Terra tem seu próprio rítmo e não parece se importar nem um pouco com nossa ciência fazendo questão de deixar isso bem claro!