quinta-feira, julho 31, 2003

Sumido mais uma vez

Preciso pedir desculpas aos meus dezesseis visitantes diários pelo espaço entre as entradas de novidades neste blog. Eu já tenho a mania de escrever com alguns dias de atraso (todos os posts entre sábado dia 19 e hoje foram publicados hoje...) e , para piorar, estou mesmo desorganizado e não tenho conseguido ficar em dia com tudo.

terça-feira, julho 29, 2003

Astro internacional

Em geral não uso este espaço para falar de mim, mas a história é tão engraçada que merece ser contada!

Uns amigos estavam em Madrid semana passada, assistindo com mais umas cinco mil pessoas os vídeos de um evento chamado dança em trânsito que ocorre no Rio, Madrid, Cuba e outros cantos.

Agora imagine só que a última cena do vídeo sobre o evento no Brasil é um enorme e íntimo close deste ilustre anônimo assistindo embasbacado uma das apresentações mais instigantes. Ao ver minha cara, testa franzida, boca entreaberta e cara de pastel os cinco mil na audiêcia cairam na gargalhada!

Só não decidi ainda se devo me orgulhar ou me envergonhar por isso!

sexta-feira, julho 25, 2003

Em defesa da cultura nacional

A Cinelândia já foi palco de tantos comícios, tantos movimentos de protesto e de comemoração. Será ainda palco de outros tantos! Alguns tímidos como a luta pela pureza da nossa língua...

Não foi a primeira vez que vi um destes cartazes com traduções esquisitas como Drive-Thru = Entrada e Hot-dog = Cachorro-quente. Nem foi a primeira vez que me desviei por alguns segundos para me perguntar que raio de traduções são estas!?

A primeira está errada mesmo! Veja lá você se alguém vai comer na entrada! Céus! O Cachorro-quente não é a mesma coisa que o hot-dog! Enquanto a versão estadunidense é com molho ralo e sem graça o nosso leva até batata-frita e ovo de codorna!

Pois então, toda vez que passo por estas placas penso nisso, mas pela primeira vez me ocorreu que em sua luta eles mais atrapalham do que ajudam, mesmo na tão amada proteção da pureza da nossa cultura! Afinal ao adotar nomes em Português para costumes estadunidenses estamos adotando estes costumes como nossos! E nada é menos brasileiro que um drive-trhu por exemplo! Basta ver como são poucos no país: brasileiro gosta de sentar e bater papo em mesas grandes com dezenas de amigos!

Nossa campanha poderia ser exatamente o contrário, vamos devolver a eles o que não nos pertence! Acabemos com a guerra, a ganância, o preconceito dos nossos dicionários e passemos a falar em war, greed e prejudice!

sábado, julho 19, 2003

Elo perdido

Foi ainda ontem,lado a lado com outros animais nos assustávamos com o rugido dos trovões, corríamos para a segurança de árvores ou cavernas juntando-nos em grupos como matilhas para nos tornarmos mais fortes que os perigos das nuas planícies.

Usando ossos, paus e pedras não eramos muito mais do que primatas engenhosos, mas desenvolvemos esta arma preciosa: a razão!

A mesma que nos afastou da inocência, despertou a consciência e nos expulsou do paraíso tornando-nos um pouco mais do que animais, mas bem pouco ainda!

Somos um outro elo, diferente daquele que fica antes dos Cromagnon, somos um elo psicológicos entre o animal que intui e o animal que raciocina.

Deus


Ao ligar a tv durante a madrugada e ver pastores das mais diversas roupagens e credos apavorarem seus seguidores como faziam antigamente os trovões e os predadores é inevitável que nos questionemos sobre a natureza da nossa fé e do nosso espírito.

Será que ainda precisamos de outros homens que nos digam onde está Deus? Será que já não está na hora de contar menos com este pai e agir como adultos?

Poder


Fugimos das estepes repletas de predadores para feudos repletos de doenças e destes para cidades repletas de predadores. E quando eles não estão lá criamos lendas urbanas e campanhas de terror para escondê-los nas sombras. Nos escravizamos aos medos primitivos que nos levavam ao alto das árvores e ao fundo das cavernas.

O poder já não é mais necessário ou benigno, é um mito obsoleto do tempo em que não sabíamos ter bom senso, hoje a solução se tornou um dos nossos maiores problemas...

sexta-feira, julho 18, 2003

Intersecções

O silêncio noturno corre pelas ruas frias de Vila Isabel interrompido apenas pelo ruído morno de automóveis casuais e pelas sombras de aves noturnas ou morcegos.

As paredes das salas mudam de cor refletindo o notíciário nos televisores que alertam para os perigos modernos. As ruas bem iluminadas se obscurecem pelo medo.

De um portão escapam risadas e vozes animadas que espantam as sombras, se espalhando pela rua, diluindo-se no silêncio noturno até se confundir com as memórias de festas passadas...

domingo, julho 13, 2003

Casa Noturna

Entre as nuvens o brilho da Lua quase cheia se infiltra e se espalha irregular, a luz do teatro se estende pelo chão frio fazendo brilharem as gotas da garoa que se precipita lentamente, circulando silenciosamente cavalos são conduzidos pelos seus tratadores. Nas sombras, entre os carros, um homem vai sendo gradativamente coberto por pequenas gotículas brilhosas enquanto observa os morros iluminados ao longe.

sábado, julho 12, 2003

Temperatura do som

Rio, cidade dos quarenta graus, cidade dos braços abertos, do calor humano, do inverno fugaz...

O termômetro público no Humaitá registra 13 graus antes de mostrar a hora, 22:30... O vento frio e húmido conduz o frio às veias, tendões e pensamentos dos cariocas escondidos em seus casacos. Do Pedro II flui uma orda de adolescentes para o bar em frente, de algum lugar surgem pandeiros e outras percussões, a algaravia e os movimentos em blocos coesos espantam o frio do corpo enquanto o som esquenta os pensamentos.

quinta-feira, julho 10, 2003

Paradoxos temporais

O vento frio começa a chegar no largo dos Leões, no Humaitá, antecipando as chuvas previstas para amanhã. As copas das árvores bloqueiam as luzes dos postes desenhando sombras difusas no chão irregular de pedras portuguesas. Num cantinho escondido do largo a luz de um boteco se estende sobre a calçada envolvendo um grupo de rapazes.

Os ladrilhos gastos do chão já perderam o degradê que ia do branco ao preto deixando a cor do barro esticada da porta para o interior onde algumas mesas vazias ficam sob uma televisão sintonizada em uma partida de futebol, nestes bares as tvs sempre mostram partidas de futebol!

Estamos em 2003, mas os vestígios dos anos 70s permanecem todos lá! As garrafas de pinga penduradas nas paredes, o cardápio de pão francês com queijo, ovo colorido e torresminho... Estes dois últimos já desaparecendo na memória dos tempos que se foram: só tinha mesmo o pão com queijo...

Duas meninas entram, não mais do que 17 anos passaram sob aqueles pés que desfilam sobre o chão que viu tantas décadas, pegam uma cerveja, dois copos. Vão conversar e beber lá no meio do largo, longe dos rapazes e donas dos próprios narizes.

domingo, julho 06, 2003

Dança com lobos

Estou correndo no campo, uma lança em uma das mãos, os pés descalços e sujos de terra escura, ao meu redor animais, outros animais como eu, correm. Uns fugindo dos caçadores, outros imponentes não se preocupam com predadores e apenas cruzam a planície buscando água ou se divertindo com sua corrida.

Fui ao zoológico! ;-)

No meio dos outros animais, estranhamente enjaulados, fui pego neste devaneio, parecia que tudo aquilo não passava de ilusão e na realidade ainda corriamos entre as árvores nas savanas. A verdade é que ainda faz muito pouco tempo que deixamos de ser animais, ou, pelo menos, que passamos a achar que deixamos de ser animais.

Será que selvagem é algo tão ruim assim? Fazemos questão de nos sentir diferentes, mas a selva ainda está dentro de nós. Fugimos da selvageria e tentamos idealizar um mundo perfeito. Algumas vezes acho que somos uma espécie covarde que desenvolveu a razão por não suportar a vida real: a liberdade das planícies...

sexta-feira, julho 04, 2003

Bicho de sete cabeças

No palco uma menina-mulher. Parada, o olhar perdido no chão, abraçada a um pequeno banquinho. Silêncio... Imóvel... todo seu corpo é expressão! do olhar aos dedos dos pés; transmitindo a intensidade do movimento interno prestes a se libertar.

Bicho de sete cabeças... A música quebra o silêncio e poesia se torna movimento.

Somos bichos de sete cabeças? Para nós mesmos, para os outros? somos bichos que amam, que temem que tentam se entender e se revelar, que se olham nos espelhos refletindo e sendo refletidos! bichos de sete cabeças...

quarta-feira, julho 02, 2003

Fitness

Maria chiquinha, uns 26 anos, vestida para a malhação, livro de auto-ajuda no colo, aparentemente um bom livro. Na blusa um longo texto com as vantagens de fazer exercício: 1- combate a osteosporose, 2- aumenta a circulação cardiovascular, 3- melhora a disposição...

Sua cabeça balança levemente acompanhando o balanço do metrô, os olhos cerrados... Dorme profundamente!

terça-feira, julho 01, 2003

Sentido

Há tanto o que fazer, tanto que nos distrai a atenção que passamos facilmente pelos primeiros 60 anos de vida sem precisar de um sentido para viver. Podemos seguir exatamente como os animais, de um prazer para outro tentando nos esquivar das dores. A única diferença é a complexidade dos prazeres e dos percalços.

No final todos nós acabamos tendo um sentido, alimentamos alguma coisa que vai influenciar o futuro, mas poucas vezes realmente nos sentamos para decidir que tipo de sentido daremos para a nossa vida e vamos simplesmente passando.

É difícil até dizer se o modo animal não é melhor e os acasos da natureza ainda são mais sábios que os nossos planos... Os países, culturas e religiões que criamos enquanto buscávamos sentido muitas vezes causaram muito mais confusão do que nossos atos mais inconseqüêntes, ou não?

Talvez não tenhamos mesmo opção e alguns de nós só consigam viver buscando sentido enquanto outros só fazem sentido no acaso...