sexta-feira, julho 30, 2004

No coração verde

A menina e o tio acampam no meio da floresta tropical, este ainda é o primeiro dia, o primeiro na vida da menina de onze anos a ser passado no meio do mato. Ela não tem medo. pelo contrário! Deseja mergulhar no fundo do coração verde que a cerca.

A noite já caiu e o mundo parece ter sido enfiado dentro de um saco escuro de feltro negro, ruidos desconhecidos os cercam por todos os lados. Curiosamente ela se sente segura e aconchegada sentada enquanto o tio acaba de ajustar a barraca.

Durante todo o dia ela viu caminhos escondidos que certamente a levariam para aventuras fantásticas dentro da selva, mas o tio evitava todos eles dizendo que não era hora para ela se aventurar por lugares como aqueles!

"A principal diferença entre um adulto e uma criança é que o adulto não precisa de ninguém que lhe diga quando parar, ele sabe onde estão seus limites... Se na cidade ganhamos um galo na testa quando não aprendemos es lição, na floresta perdemos muito mais!"

As palavras do tio ecoavam em seus ouvidos enquanto olhava para as chamas na fogueira saltarem como se tivessem vida.

quarta-feira, julho 28, 2004

Na porta do camarim

Dois amigos enfrentam o frio e vários ônibus para ir do subúrbio a um show das Chicas (Fernanda Gonzaga, Isadora Medella, Paula Leal e Amora Pêra). Um amigo do rapaz, João, é roddie do grupo.

- Olha! O João vai jantar com as Chicas, vamos com ele!!

O rapaz animado puxa pelo braço uma amiga relutante...

- Tá maluco? Eu não quero conhecer elas!

Ele se detém, olha para trás lentamente com interrogações espalhadas ao redor dos olhos.

- Ué?? Mas você é louca por elas! Foi você que me trouxe para escutá-las pela primeira vez! Tá tímida?

- Ah! É... Eu sou tímida sim! Mas não é isso!! Aiiii... É que... Posso falar?

- Claro! Mas fala rápido que elas estão quase de saída! Olha lá!

- Tá bom! Tá bom! Olha... Lá no palco, cantando e tocando elas são perfeitas! Minhas ídolas! Tão fofas! Mas se eu for conhecê-las vou descobrir que elas são pessoas comuns! Eu não quero!

O rapaz, que até então estava ansioso puxando a amiga, fica paralizado... Olha para as moças que já se dirigem para a porta acompanhadas pelo João...

Ele se vira para a amiga e seu olhar não tem mais interrogações flutuando e sim uma série de exclamações rodopiantes.

- Vamos comer um cachorro-quente no seu Oliveira e conversar sobre o show!?

terça-feira, julho 27, 2004

Blog mais pé no chão

Ainda outro dia comentei que colocaria aqui algumas mensagens que fogem ao clima de devaneio que dominou este blog nos últimos dois anos. Acho que é um processo de amadurecimento do blog, mas ainda estou em dúvida sobre o que deve vir para cá e o que deve ir para outras partes do site. Como critério vou usar os comentários... Vou procurar publicar o tipo de assunto que gera comentários aqui.

Isso se houver algum! Do contrário terei que inventar outros critérios! Hehehehe!

O Mito da Criação / Histórias Indigenas

Este é outra mensagem que coloquei no Orkut respondendo a um tópico na comunidade Mitologia e Psicologia.

Oi!



Acho que a intensão inicial era falar das mitologias brasileiras, o que é uma boa idéia, pois, apesar de bem documentada, ela é pouquíssimo comentada!

Não dá para falar nisso sem falar em Câmara Cascudo que é um dos mais importantes folkloristas brasileiros.

Para variar estou numa correria, mas tenho algum material dele aqui. O mais importante, acho, é pensarmos no impacto que a invasão européia teve nos mitos de cada cultura com que ela entrou em contato.

Era praxe da técnica de dominação se apropriar de algum deus menor de cada cultura que mais se aproximade às características do deus cristão e "alimentar" a crença nele ao mesmo tempo que se demonizava o principal deus daquela cultura.

No Brasil isso foi meio complicado, os índios tinham religiosidade, mas a sua forma de personificar os deuses era única. O que mais se aproximava de um deus era Anhangá, que foi realmente demonizado mais tarde (fonte Geografia dos mitos brasileiros, Câmara Cascudo). Para ocupar o lugar de deus eles realmente pegaram a palavra Tupã, trovão.

O engraçado é observar que a relação dos índios com a divindade era tão diferente que, quando ouviam trovões, diziam que os deuses estavam zangados e atiravam flexas para o alto para acalmá-los no susto! Hehehe!!

Vou ver se acho mais sobre o mitos originais na sua forma mais pura e coloco aqui, certo?

segunda-feira, julho 26, 2004

Amnésia onírica

... Quem sou eu??

Ele olha ao redor, é uma sala de temperatura agradável, ele está sentado em uma confortável poltrona com um edredon sobre as pernas. Ao seu lado há um óculos esquecido sobre um livro e atrás dele uma luminária apagada.

Aos poucos o homem vai percebendo que, por mais estranho que o lugar pareça, aquele é o seu lar, sua sala de leitura com uma janela panorâmica para a cidade mais abaixo onde pessoas menos afortunadas sobrevivem em pequenos apartamentos apertados que são invadidos pelas luzes alaranjadas dos postes e pelos rugidos e chiados dos ônibus.

Em seu corpo, no entanto, ele ainda sente o calor do sol das savanas e quase sente a terra áspera nos pés descalços.

- Aaaaaaa!!! - Ele grita sobressaltando-se com o som da própria voz. Ele tem certeza de ter visto um vulto passar pela fresta da porta entreaberta atrás dele.

Em sua mente anestesiada pelo sono ele escuta uma voz suave e paciente, o tom de quem fala a uma criança...

- Você é o esquecimento do que foi, é o desejo de vir a ser o que jamais deixou de ser e a decepção da busca pelas respostas onde só há perguntas... Este é quem você é... Quando dorme é como se estivesse desperto, ao acordar se esquece e é como se dormisse profundamente entregando-se a devaneios e fantasias esforçando-se para não dormir, ou não acordar! Depende do lado do espelho que você prefere!

A sombra que não pode estar lá faz então um maneio com a cabeça, tira seu grande chapéu de mosqueteiro e desaparece em um rodamoinho de sombras...

Lost in Translation

Este comentário foi no Orkut, mas acho um desperdício deixar lá no limbo (já que o que lá é escrito fica inacessível aos buscadores como o Google) alguns textos mais inspirados.

Este foi na comunidade Cinéfilos e é sobre o filme Chegadas e Partidas da Sofia Coppola.

"Acabo de ver o filme novamente em DVD e descobri que eles fizeram as externas da cara e na coragem, sem cordões de isolamento! Entrando no meio da multidão, fingindo ir tomar café para achar um bom ângulo de câmera! Impressionante!

Bem, quanto ao que o Bob fala no ouvido dela, acho que há coisas que não dá para dizer com palavras, mas pelo visto os 99% que amaram o filme sentiram perfeitamente o que ele disse, não acha?

E por falar nisso me parece que as três ou quatro pessoas que não gostaram do filme foi exatamente por não conseguir se apropriar daquela sensação, talvez por ser uma realidade muito distante da delas...

Esta realidade é a de pessoas que conquistaram um bocado de coisas na vida, mas perceberam que lhes falta algo sutil e de valor inestimável... É muito difícil falar deste filme, ele sem dúvida é uma das melhores obras de arte que já vi, arte não pelo roteiro ou pela mensagem, mas, como um quadro de Alma-Tadema, pela sutileza dos traços! Falar dele é limitar seu significado!"

Chicas

Começando pelo que importa:
Se você está no Rio de Janeiro não deixe de ir assistir as Chicas no teatro do Jockey! Seus ouvidos merecem esta oportunidade de ter prazer!

Boa música! Ela anda em baixa. Você não tem a impressão de que 80% dos bons artistas tem sido colocados de lado por uma indústria fonográfica que só tem olhos para os sucessos descartáveis?

Não é fácil achar bons intépretes, nem bons músicos que saibam tocar percussão, sopro e cordas, nem artistas que tenham boa presença de palco, muito menos com bom repertório. O que se dirá de achar quatro mulheres assim! Estas são as Chicas! Elas tocam, interpretam, compõe e encantam de todas as formas.

Vivemos a era das explicações, já não há mais mistérios que nos façam recorrer a Deus para encontrar explicação, mas há a arte de meninas como estas quatro! Se Deus está em algum lugar, se jamais esteve em algum lugar, é na arte e no talento de gente como Chico Buarque, Mozart, Orlando Silva, Luis Gonzaga... e as Chicas.

domingo, julho 25, 2004

Porta entreaberta

É uma sala escura e vazia, apenas uma grande janela para a paisagem mais abaixo - uma grande e iluminada cidade - e uma cadeira onde se esparrama um homem mergulhado em seus pensamentos. Atrás dele a porta entreaberta emoldurada por um tênue risco de luz.

Deixa-se levar pela música suave enquanto mergulha em pensamentos na atividade febril da cidade onde pessoas se movimentam pelas ruas como sangue de um estranho e gigantesco organismo vivo. Passam pelo batimento das boates, pelo esquecimento dos bares, pela fantasia dos cinemas.

Sozinho se esquece... Sua própria existência se desvanecendo em fina bruma de momentos sem significado. Sua consciência deslizando lentamente pela escada espiral dos devaneios inconscientes.

Na outra sala um ruido macio como o feltro roçando o piso de madeira mal encerado, uma leve risada sibilante e a sombra de um chapéu emplumado sobre a cabeça peluda com orelhas pontiagudas de um gato de botas... Sua consciência já está perdida nos domínios de oneiros e sua atenção incosciente plana até a fresta iluminada atrás da cadeira.

Do outro lado lhe esperam as vastas planícies das savanas onde, pela primeira vez, um par de olhos pequenos e curiosos olharam no espelho d'água e, despertando de milhões de anos de inconsciência, perguntou "quem sou eu?"

Assustado o homem desperta!

- Quem sou eu?

sábado, julho 24, 2004

Epílogo precoce

As sombras e as luzes dançam no palco e a música se projeta sobre o público...
"Vai, que a liberdade está na sua frente"*

Entre a multidão uma menina fita o palco, os movimentos alegres se desacelerando enquanto antecipa o resto da letra...

"Tudo que vivemos já passou, *
Mas ainda posso te ver."

E, claro como a lua, o rosto tão querido da amiga que partiu antes de poder deixar um abraço, dizer uma última palavra...

"A vida foi mas ainda estou aqui"*

Na saudade, na perplexidade diante do fim imposto tão precocemente ao pequeno coração adolescente...

"É... chora quem fica e a saudade aperta"*

No meio da multidão uma pequena menina soluça e suas lágrimas banham a saudade que não pode ser morta...

quinta-feira, julho 22, 2004

Nem tanto para o sul, nem tanto para o norte...

Apesar dos devaneios que povoam este blog serem um exercício e uma diversão para mim, devem paracer totalmente sem sentido para os 150 visitantes diários que este site tem. Ao menos é o que deduzo da ausência quase completa de comentários!

Acredito que devemos tentar partilhar o que temos de útil e talvez este blog esteja sendo sub-utilizado neste sentido! Foi por este motivo que decidi revezar os devaneios com mais reflexões, dicas e novidades na esperança de que você, caro leitor ou leitora, encontre algo aqui que lhe sirva! ;-)

Ah! mas pode ter certeza que "meu querido diário" este blog nunca será! ;-)

Aconteça o que acontecer este sempre será um espaço para buscar novas formas de consciência...

quarta-feira, julho 21, 2004

Para ser feliz

- Porquê você faz assim comigo Rogério? Sou só carinho para você e tudo que tenho de volta é esta cara emburrada quando não é uma patada!

- Vorrum nourm putz brum

- Fala direito Rogério! grunindo assim não entendo nada!

- Não vê que tô cansado porra? Me deixa quieto! Você passa o dia aqui enquanto estou na rua trabalhando, droga! - e mudando o semblante fechado para um inesperado olhar de carinho - eu te amo puxa! Conversamos outro dia que eu esteja menos estourado!

Ele leva a mão áspera suavemente até o rosto da esposa e retira a lágrima que escorre por sua bochecha. Um toque que não dura mais de um segundo pois ela se vira contrariada e sai andando em passos pesados resmungando.

- Tá, Rogério, tá! Vou lavar a louça que já tá tarde.

Ele fica diante da TV olhando sem ver o programa que mostra as agruras da cidade alerta, uma cidade onde a violência nunca dorme. Ele olha mas vê apenas seus próprios pensamentos.

Ele só queria ter uma bela mulher, dinheiro para se divertir, comprar coisas boas para eles e para a menina lá no berço. Ele se diverte, tem o carro e o berço tem brinquedinhos que giram e tocam musiquinhas... Mas ele não é feliz, não bastava isso. Mas agora ele está dando mais duro para juntar dinheiro para comprar um apartamento maior e mas bem localizado... Então ele vai poder se dizer um homem realizado!

terça-feira, julho 20, 2004

Vozes coletivas - Orkut

Resolvi dar uma pausa no tom normalmente experimental deste blog para falar claramente por um instante. - apesar de achar a expressão simbólica muito mais rica e divertida.

O ciberespaço é um vasto e novo território, bem similar às américas quando de sua "descoberta". Ele tem seus nativos (que podemos chamar de hackers) entre os quais atrevo-me a me incluir, e temos os visitantes, ou colonizadores.

Este é um tema delicado, corro o risco de ser mal interpretado e parecer preconceituoso. Peço que você tente afastar estas considerações! Me refiro apenas ao fato de que algumas pessoas "entraram" muito cedo no ciberespaço e nele se integraram melhor do que outras. É como o cinéfilo ou o leitor que mergulham profundamente na obra que assistem. Há mesmo leitores que sentem frio, odores e cores do que estão lendo...

Assim são os cibercidadãos no ciberespaço: eles não olham para telas de computador, olham através de janelas (embora geralmente reneguem o Windows) para grupos de pessoas que se reúnem em fóruns, para vastas enciclopédias comunitárias, para rios onde podem dar vida ao seus projetos.

Resolvi tocar neste assunto claramente por causa do tratamento que a nova febre internauta tem recebido da mídia. Sim, é ao Orkut que me refiro.

São raros os artigos que não rotulam a comunidade de inútil ou infantil. Em muitos casos sem nem mesmo entrar lá para conhecer! "Não vi e não gostei"!

Sim há muita tolice no Orkut, ele é a maior comunidade on-line do mundo (cerca de 2 milhões dos quais mais de 45% são brasileiros) e o perfil da minoria que tem acesso à Internet acaba prevalecendo.

Os cactus entretanto tem belas flores entre os espinhos! Há comunidades sérias que discutem a língua portuguesa como a Inculta e Bela, física como a Física (Oh!) ou a Orkutiqueta que fala sobre a boa convivência on-line.

Acima disso, afinal há outros fóruns muito mais sérios, o Orkut tem o mérito de reapressentar aos novos cidadãos ao fim básico do ciberespaço: criar comunidades!

Um ciberespaço limitado a grupos fechados de discussão pode ser um ambiente neurotizador, em comunidade os direitos de cada um regulam os dos outros.

segunda-feira, julho 19, 2004

Carondigo

Os vidros embaçados do ônibus são proteção ineficaz para o frio ártico que corta as ruas do lado de fora.

Entre a chuva e o vento os habitantes da rua, descalços em sua maioria, tremem e se encolhem espreitando com olhos fundos e amarelados em busca de um refúgio, uma caverna, uma toca.

O ônibus abre sua porta num ponto para que alguns encasacados passageiros se atirem na intempérie para tratar dos seus negócios. Lá na frente, isolados, motorista e trocador se entregam ao torpor da rotina.

O mendigo, vendo uma oportunidade, esgueira-se abaixado para dentro do veículo aquecido acompanhado apenas da sua aura de rua, de falta de banhos e sonhos esquecidos, congelados.

Senta-se imóvel ao lado de uma moça desconcertada e até assustada. Sequer um músculo do pobre homem se move... A cabeça submissa encolhida entre os ombros, o olhar pequeno de esquilo que se esconde entre as pedras na toca de um urso. Nos pés descalços as chagas das longas caminhadas sobre o asfalto áspero. Alguns minutos depois se esgueira para outro banco, onde pode ficar só e não incomodar a moça que estava ao seu lado nem mais ninguém...

domingo, julho 18, 2004

Nogódio

A noite e um frio capaz de trincar os ossos se deitam sobre a praça como um véu de neblina, como uma mortalha que obscurece os pensamentos.

Sentado num banco à sombra de uma árvore o homem joga milho para pombos que só habitam seus devaneios: não há viva-alma entre as grades verdes que limitam as fronteiras da praça.

Abandonado por todos que amava e por quem se considerava amado ele busca explicações. Mergulha nos vastos conhecimentos de antropologia, teologia e filosofia em busca da essência humana, mas tudo que encontra são mais dúvidas.

Nas horas que esteve ali sentado enquanto o dia frio cedia lugar para a noite enregelante sequer conseguiu decidir quem era! Racional, emocional, institivo, filho de um deus ou apenas um animal sofisticado?

sexta-feira, julho 16, 2004

Entre as sombras nos perdemos

"Nesta cidade o ódio faz acontecerem muitas coisas, mas o amor faz mais ainda. Por que será que no amor acontece tanta briga, e no meio do ódio há tanto amor? Tudo foi criado do nada, e o nada foi criado do tudo. A luz tem peso e a vaidade é levada a sério. O caos disforme é feito a partir das formas mais bem proporcionadas."
Romeu e Julieta - William Shakespeare na adaptação de Fernando Nuno.

Entre nós e nossos irmãos animais e plantas talvez a única real diferença seja a capacidade de se encantar com a arte e, do encantamento, criar novas coisas e obter prazer da vida.

Infelizmente, nos últimos tempos, vivemos um tipo de era do hãhã (aquele muxoxo rápido de quem diz "sei... sei..." sem saber de fato) ou da fotocópia: temos uma idéia geral de tudo e um conhecimento íntimo de nada!

Quem só conhece Shakespeare pelas referências a ele nos seriados de televisão perde mais do que o prazer de histórias que alimentam a alma! Perde alguns dos melhores motivos para ter orgulho de ser humano.

Isso para não falar de Cervantes, Pirandello, Rousseau, Machado de Assis, Philip Pullman, e tantos outros. Mesmo livros não sendo tudo, há outras formas de arte tão ricas quanto eles...

quarta-feira, julho 14, 2004

Essência

Um dia Descartes acordou e decidiu criar um método para entender o mundo e acabou provando a existência da alma e de Deus! Começou imaginando-se em sua essência...

Um outro dia um sujeito chamado Rousseau olhou para a civilização e achou que nossa educação e sociedade nos tornam vís: somos bons em essência...

Tem gente que diz que está tudo na Bíblia e lá o começo era um paraíso, depois a gente foi caindo...

Deste jeito acabamos pensando que estamos involuindo! Na verdade este parece ser o consenso comum: amanhã será pior que hoje! sinceramente? Eu... queroooo... Certas coisas não dá para falar num fóro tão aberto quanto um blog! ;-)

Também acredito em pulsões essenciais, células básicas da mente humana que estão sempre lá, que nos fazem semelhantes, que produzem sonhos e medos parecidos estejamos no Brasil, no Japão ou na Nigéria... O que nos falta é abandonar as certezas da cultura hãhãhã e olhar com um pouquinho mais de atenção à nossa capacidade ímpar de pensar...

terça-feira, julho 13, 2004

Pausa

Corredores de shopping: apressados e admiradores de vitrine se esbarram, a cacofonia dos sons das lojas se mistura ao ruído das conversas, risos e apitos dos aparelhos nas cozinhas das lanchonetes.

Ao fundo uma melodia suave se levanta da algaravia dominante, uma música de Dido vindo da praça de alimentação, no andar abaixo. Pelo vão vejo que não é mais uma caixa de som e sim uma moça sentada singela em seu banquinho com uma guitarra vermelha.

Lá em baixo o ritmo do shopping desacelera hipnotizado pela voz suave e triste, por um instante o desejo dá lugar a memórias, emoções e sonhos. Depois o mundo volta a girar em volteios frenéticos.

E Hérica Salles - a dona da voz e da guitarra vermelha - para onde ela irá ao sair dali, qual é a voz que desperta suas memórias, sonhos e emoções?

domingo, julho 11, 2004

Resíduos

Mando um email que não terá resposta, vejo seu perfil no Orkut e sua foto com um vasto sorriso. Posso navegar pelos seus sonhos e reflexões em seu blog, mas seu coração já não pulsa, seus olhos estão voltados para um horizonte que não posso encontrar com os meus. Ligo para sua casa e a voz na secretária, alegre e quente, avisa "não estou! Ligue daqui a pouco ou tente meu celular!". Em seu celular uma voz desconhecida atende: "foi-se!" é a única notícia que me vem entre soluços.

Seguindo os passos de Lao-tsé seus passos mergulham entre as brumas da grande floresta dos sonhos, some aos poucos deixando-nos resíduos e passando da carne para o mito.

Becos escuros da fé

"Quem não consegue lidar com seus demônios nos atormenta com seus anjos"

Algumas frases dizem tudo... Se você souber quem é o autor me avise por favor!

sábado, julho 10, 2004

Ainulindale

Quando escrevi Realidade: Um mosaico foi para abordar outro aspecto do texto em O que há entre o céu e a Terra?. As palavras definitivamente tem vontade própria!

Persisti e escrevi Deus e a Ciência lá no Orkut e trouxe para cá! Mas tudo que pretendia dizer é que, queiramos ou não, os deuses e demônios que assombravam nossos ancestrais ainda habitam os cantos escuros da nossa consciência e lá a religiosidade é o mantra que mantém o equilíbrio das sombras...

sexta-feira, julho 09, 2004

Deus e a ciência - Orkut

Em algumas comunidades do Orkut rolam boas e acaloradas discussões, mas elas não podem ser achadas nos mecanismos de buscas da vida, então decidi colocar aqui os assuntos mais interessantes.

Aguém perguntou na comunidade Física sobre Deus e seus designios. Esta foi a minha resposta:

Deus e a Física



Vou tentar ser suscinto...

Creio que o nosso primeiro passo deve ser separar a mitologia da teoria que venhamos a desenvolver...

Digamos que haja uma consciência que existe desde antes da formação do Universo (e esta questão já é complexa, já que o próprio tempo está ligado ao surgimento do Universo). Neste caso, as religiões podem ser tentativas da nossa espécie de descrever algo que ela percebe intuitivamente... Neste ponto vale a pena refletir sobre as teorias linguisticas de Noam Chomsky que propõe que nossa constituição biológica define nossas formas de linguagem. Podemos estrapolar e supor que a semelhança das religiões é também fruto de nossa "história" biológica e evolutiva.

Ainda assim, supondo que esta super-consciênca com 14 bilhões de anos exista, todos nossos esforços certamente se limitarão a arranhar sua superfície; parecido com o que acontece com qualquer teoria sobre como era o espaço antes do surgimento do Universo...

Com isso, temos que as religiões podem ser, no máximo, descrições de insights sobre uma forma de consciência que estamos longe de compreender. Em outras palavras, Uma visão fortemente influenciada pelas nossas experiências culturais que acabam dando feições humanas a ela.

Então chego ao ponto: Tudo ao seu tempo...

Até onde posso notar fazendo uma revisão mental da teoria M, física quântica, cosmologia etc. as únicas manifestações de uma consciência superior estão em campos do conhecimento ainda mal explorados, portanto ela pode estar lá brincando com os quantas (blocos básicos que formam elétrons neutrons etc.) ou podemos simplesmente não ter compreendido este fenômeno adequadamente. Desta forma Deus talvez não exista! Seja como for, não creio que nossa ciência seja capaz - no estágio atual - de produzir uma teoria consistente a este respeito.

E apesar disso tudo sou mais um a sentir intuitivamente que o Universo parece aspirar a uma forma de consciência. É apenas um insight que pode não passar de um traço da nossa mente primitiva e sujeita ao encantamento diante das maravilhas inescrutáveis do Universo! Seja como for se esta consciência existe o máximo que podemos afirmar cientificamente é que ela não tem o costume de interferir em grandes coisas embora talvez se faça notar em pequenas sincronicidades e de uma ordenação fascinante que produz fenômenos como sincronicidades, os números complexos, a série de Fibonacci e outros "sinais".

A resposta para as suas perguntas? Acho sadio que elas sejam feitas e discutidas filosoficamente, mas suspeito que ainda temos muito chão pela frente antes de chegar perto de um entendimento científico parcial!

Ah! Em tempo! Nada do que declarei aqui deve ser considerado mais do que mero exercício teórico!

quinta-feira, julho 08, 2004

Realidade: um mosaico

A menina sentada na grade do metrô se move em câmera lenta enquanto o mundo gira freneticamente ao seu redor! Um mundo de passos nervosos, de ternos alinhados, mendigos fedorentos de cabelos desgrenhados, meninas colegiais de saias plissadas, garotos de rua - como ela - carregando suas caixas de engraxate, camelôs que seguram firmemente os cordões dos seus para-quedas, os membros da guarda civil que os assustam...

As imagens passam ao seu redor em borrões pincelados por Monet provocando um borbotão de sons abafados e caóticos. Deuses e demônios que deslizam sobre a Terra sem deixar marcas, somente borrões e sons.

No meio de tudo a pequena flor de lotus de cabelos castanhos esvoaçando lentamente como se ela, e apenas ela, estivesse mergulhada no mar das reflexões que não atinge os outros porque já ficaram velhos demais ou surdos demais.

Em algum lugar - ela sabe - Eleale, seu irmão, permanece preso reciclando papel e estudando informática, quem sabe um dia ela também...

quarta-feira, julho 07, 2004

O que há entre o céu e a terra?

- Por favor! Me diz que você é criacionista! Preciso saber de alguém de carne e osso como alguém pode acredita nisso!

- Ora! Eu sou cristã, então sou criacionista! - A voz dela é suave e tranqüila, dá mesmo vontade de sentar e relaxar...

- Mas - ainda interpelo - E a teoria de Oparin, as experiências de Miller e outros que comprovam as hipóteses para a origem da vida?

- Você precisa olhar com os olhos da fé e não com os da razão - ela começa a explicar - É a razão sem fé que tem levado a gente a maltratar tanto o nosso planeta e até a gente mesmo! Achamos que tudo não passa de reações físicas, químicas ou geológicas casuais e que podemos sair modificando e transmormando tudo! A criação pertence a Deus e a gente só devia preservar!

- Mas... - e minha voz morre na dúvida enquanto reflito em torno das suas palavras.

- Além do mais quantas pessoas você acha que realmente tem como entender todas estas teorias? A gente ainda vive num mundo habitados por demônios e o conforto que Carl Sagan pode oferecer está muito longe de bilhões de pessoas! Elas precisam acredita em algo maior para confiar no chão sob os pés delas! Principalmente as nossas crianças que já não tem fé no país, nos pais, no futuro ou nelas mesmas! Ao jogar uma complicada desespiritualizada teoria da evolução sobre suas pobres cabecinhas tudo que fazemos é lhes tirar a única esperança: Deus...

terça-feira, julho 06, 2004

Ao redor

O universo tem uns dez bilhões de anos luz (um ano luz é o espaço que a luz percorre em um ano... bastante já que ela avança a trezentos mil Km por segundo). Nossa galáxia tem uns 200 ou 500 milhões de estrelas. Com o Hubble percebemos que podemos ver entre 2 e 3 milhões de galáxias... por grau quadrado! Algo em torno de 80 a 120 bilhões de galáxias observáveis de um total, talvez, 10 vezes maior. Umas com mais de um trilhão de estrelas.

E andamos pela rua olhando para o chão...

Hoje mandei o email semanal para os amigos que você pode ler aqui.

domingo, julho 04, 2004

Incoerências II

De tempos em temos somos arrebatados pelas incoerências do nosso tempo como se levássemos um tapa na cara ao virar a esquina! Assim mesmo, de surpresa e injustamente!

Depois de alguma reflexão dá para compreender radicalismos religiosos, idiossincrasias legais ou desvios científicos, no entanto a incoerência é das características humanas mais perturbadoras...

O religioso criacionista é coerente em sua opinião, o policial que se investe do poder de juiz, juri e executor vive inserido em sua realidade, mas há os que se debatem contra suas próprias convições, como a moça que afirmava que -

"Amizades são como flores que devem ser preservadas cuidadosamente e regadas diariamente"

- e abandonou a todos...

Mais perturbador que isso só mesmo pensar que as minhas incoerências são tão invisíveis para mim quanto as dela são aos seus olhos...

sábado, julho 03, 2004

Vestígios

Me perdi pelo mundo a tal ponto que um dia nem mesmo eu sabia onde estava. Era uma manhã fria apesar do céu azul com poucas nuvens. Ao redor nada além de uma vasta savana, ao lado uma fogueira apagada e os companheiros de viagem: homens altos com a pele curtida pelo sol, olhos negros profundos e amarelados onde me acostumei a ver branco.

Peguei um punhado de terra do chão e a cheirei. O orvalho da noite revela os cheiros que se escondem na terra seca. Lá estavam os traços da passagem de leões, zebras e dos pés descalços de dezenas de milhares de anos de humanidade.

Talvez aquele lugar fosse o eden, onde o primeiro humano olhou para os céus e se perguntou se havia algum sentido em sua existência. Ali tudo havia se iniciado, talvez tudo viesse a acabar.

Poucos dias depois tanques pesados e a borracha sintética das botas de centenas de soldados deixariam naquela terra um cheiro totalmetne diferente.

Foi então que decidi perseguir o doce aroma que senti naquela manhã onde ele ainda pudesse persistir.

sexta-feira, julho 02, 2004

Criacionismo e a morte de Deus

Este sim é um vespeiro! Mexer com algo tão subjetivo como a fé é um ato de loucura já que desperta com fortes emoções inconscientes - como o medo da morte...

"Se o evolucionismo está certo então a Bíblia está errada!"

Neste caso sou finalmente obrigado a tirar o chapéu, baixar a cabeça e render minhas últimas homenagens ao falecido cristianismo... Se a Bíblia tem que estar cientificamente correta para ser um livro espiritualmente válido então já está na hora de colocá-la ao lado dos volumes de mitologia grega, egípcia, chinesa e outras.

No final talvez toda esta insistência em colocar o ensino do criacionismo nas escolhas acabe resultando em boas coisas, como a confrontação da crença e da realidade - veja que não digo verdade, pois esta, se existe provavelmente ainda está bem longe de nós! - que virão a dar por terminadas as eras dos demônios escondidos nas sombras...

Só espero que no processo o cristinismo não tenha que morrer, é uma linda mitologia quando vista em sua pureza...

quinta-feira, julho 01, 2004

Vespas no sótão

"É... Nada mudou nos últimos dez mil anos..."

A frase me pega de surpresa enquanto estou esperando o sinal abrir numa esquina sem importância de Botafogo. O tom da voz é inconfundível, a silueta que vejo de soslaio só vem a confirmar: É ele novamente, o irônico Gato de Botas.

A verdade é que gosto da sua forma ácida, direta e límpida de ver nossa nobre civilização que, se por um lado cria obras fantásticas e conhecimentos surpreendentes, por outro se debate no medo atávico do fogo e do trovão...

- Como assim nada mudou, amigo? Em dez mil anos?!?! Tudo mudou, não acha? Direitos humanos, ciência, filosofia...

Ele caminha ao meu lado com tamanha habilidade e sutileza que se confunde com as sombras das copas das árvores e dos edifícios. Somente com uma dose generosa de delírio e muita atenção para ver aquela pequena criatura e seu enorme chapéu de mosqueteiro.

- Tá... Desta vez vou te dar alguma razão, mas a essência não mudou muito, né? Vocês estão mais educadinhos, mas continuam a brigar com aquelas velhas vespas que os espulsaram das árvores... Acho que no fundo vocês continuam querendo é voltar para lá!