terça-feira, novembro 19, 2002

Salão dos ecos

As paredes distantes ecoam os passos lentos que me levam para dentro do grande salão. Elas escondem segredos que ainda não consigo decifrar, atrás de mim vejo a entrada ainda tão próxima e ao longe sei que há uma saída que imagino escura e solitária, afinal dizem que no fim da travessia pelo salão da vida estamos todos sós...
Congelados, estáticos sob a luz que entra por janelas de vidro vejo as cenas da vida, estátuas sem movimento e sem som. As cenas que já foram, as que ainda virão e estas mesmas aqui do meu lado...
Em um bar dois bêbados, bocas abertas, vazias de som, maldizem suas famílias atibuindo-lhes as fontes de todos os seus problemas; num quarto solitário chora um menino pois alguém o vê como ele não acredita que é, do lado de fora da aula de balé uma menina entrega sua crítica mais sincera à amiga; entre as quatro paredes de um quarto iluminado pela frágil luz da lua um casal chora dividindo medos e dúvidas...
Olho com mais atenção e vejo, rompendo o silêncio estático, uma pessoa correndo a passos largos de volta à entrada e, quem diria! Sou eu berrando a todo pulmão para sair dali pois aquele é o salão errado e a vida corre solta lá fora onde as árvores murmuram sua música ao vento os pássaros cantam para o sol, as crianças se sujam de terra no parque, as bailarinas apresentam sua melhor coreografia, o menino enxuga as lágrimas e abraça o melhor amigo enquanto os bêbados pedem desculpas às suas esposas!