domingo, julho 25, 2004

Porta entreaberta

É uma sala escura e vazia, apenas uma grande janela para a paisagem mais abaixo - uma grande e iluminada cidade - e uma cadeira onde se esparrama um homem mergulhado em seus pensamentos. Atrás dele a porta entreaberta emoldurada por um tênue risco de luz.

Deixa-se levar pela música suave enquanto mergulha em pensamentos na atividade febril da cidade onde pessoas se movimentam pelas ruas como sangue de um estranho e gigantesco organismo vivo. Passam pelo batimento das boates, pelo esquecimento dos bares, pela fantasia dos cinemas.

Sozinho se esquece... Sua própria existência se desvanecendo em fina bruma de momentos sem significado. Sua consciência deslizando lentamente pela escada espiral dos devaneios inconscientes.

Na outra sala um ruido macio como o feltro roçando o piso de madeira mal encerado, uma leve risada sibilante e a sombra de um chapéu emplumado sobre a cabeça peluda com orelhas pontiagudas de um gato de botas... Sua consciência já está perdida nos domínios de oneiros e sua atenção incosciente plana até a fresta iluminada atrás da cadeira.

Do outro lado lhe esperam as vastas planícies das savanas onde, pela primeira vez, um par de olhos pequenos e curiosos olharam no espelho d'água e, despertando de milhões de anos de inconsciência, perguntou "quem sou eu?"

Assustado o homem desperta!

- Quem sou eu?