segunda-feira, junho 16, 2003

Lolita anime

As portas do metrô se abrem na estação Cinelândia para nos dar acesso. Todos os bancos ocupados, algumas pessoas de pé sozinhas ou conversando moderadamente.

Sentada atrás do último banco a menina se entretém trocando o cadarço do tênis. As calças boca-de sino, a blusa curta de malha vermelha (deixando a barriga esposta) sob o casaco jeans, cabelos castanhos claros, bem curtos e encaracolados presos por uma faixa vermelha.

Observando atentamente a cena um senhor contrasta seus quase setenta anos com os treze da menina que, a todo momento expreme uma bala do tubinho que leva na mão junto com o velho cadarço branco que acaba de trocar por novos pretos.

A menos de um metro do homem seu rosto expressivo parece ignorá-lo, seus olhos giram pelo vagão, o olhar se perde no chão, através dos vidros escuros, nos cantos do vagão: observam sem ver, como se apreciassem a paisagem enquanto os pensamentos vagueiam pelas vastas planícies da imaginação juvenil.

As portas se abrem e ela se vira com a nota de dez reais para o cinema na mão e segue seu caminho para o shopping deixando apenas a lembrança dos olhos pequenos e cheios de vida, dos dentes dentuços e as fantasias dos anciões.