segunda-feira, abril 12, 2004

Yuki e a Morte

A madeira da estalagem estalava sob os seus pés descalços, as vozes e risadas das pessoas comendo com palitos ao redor das mesas baixas enchiam o ar como uma névoa densa.

Yuki servia os pratos apesar de ter apenas 11 anos, mas tinha que ajudar o tio já que perdera os pais e não tinha onde morar.

No meio de todo o barulho, num canto perto de uma janela, a pequena Yuki percebe um silêncio... e uma fina brisa fria. Era como se ali houvesse uma bolha de água onde nenhum calor ou ruido penetrasse... E bem no meio estava Ela...

Sua face lisa e branca como a neve, os lábios negros como a noite assim como seus olhos! Mas o sorriso suave e quente! O olhar vivo e brilhante que a fitava e piscou de volta... Ela pulsava uma vida estranha!

Foi então que entou o homem, o traí­do em busca de vingança! Yuki via tudo acontecer em câmera lenta... Enquanto o brilho da lâmina sedenta de sangue surgia do meio das vestes do homem Ela, a moça no fundo da estalagem, se levantava. Invisí­vel para todos exceto para Yuki. Se levantava e tocava suavemente cada aldeão que era ceifado pelo samurai. E a cada um que tocava uma névoa azulada ia se formando ao seu redor. Uma névoa azulada e luminosa que formava rodamoinhos que agitavam o seu cabelo negro e curto.

Quanto tudo acabou o brilho do aço veio em sua direção, mas Yuki mantinha os olhos fixos na bela face dEla e nada poderia assustá-la enquanto visse aquele rosto!

A lâmina a feriu, fez arder sua bochecha, mas no seu ouvido Ela lhe dava um beijo frio e sussurava "hoje não.."

Na outra estremidade da katana o samurai a olhava no fundo dos olhos e, nas profundezas daquele olhar puro e infantil, pode ver a imagem dEla. Seu espí­rito se quebra e volta-se para o fim inexorável; seu coração se aquece e, esquecendo-se do curso da lâmina no rosto de Yuki, vira-se e parte.

Enquanto o cansado samurai parte Ela o acompanha com passos suaves, mas antes de sumir vira-se uma vez mais para Yuki, abre um sorriso com dentes brancos, franze os olhos fazendo covinhas no nariz que lhe dão o ar de um coelhinho... Levanta uma das mãos acenando e diz "até outro dia Yuki!"