sexta-feira, abril 09, 2004

O Cedro e o Zéfiro

Encolhido em um canto eu observava a vingança do ronin cair sobre todos nós, assistia amigos e parentes entregarem suas almas àquela lâmina fria. Não havia uma voz que se levantasse para implorar piedade, nossa vergonha não nos permitiria!

No meio da casa estava a pequena Yuki que acabara de completar 11 anos... Ela observava a fúria vingadora sem derramar uma lágrima! Parecia esperar sua vez de encontrar os pais mortos ano passado na enchente. Apenas o seu cabelo balançava ao vento dos movimentos desesperados dos que procuravam fugir inutilmente.

Enquanto eu piscava os olhos tudo terminou e não havia qualquer movimento entre os corpos espalhados no chão. No centro de tudo se erguia o samurai como um grande cedro. Sua lâmina riscando o rosto de Yuki enquanto uma brisa suave atravessava as janelas vindo acariciar os finos fios de cabelo da menina.

Foi então que ele se virou... Passou os olhos por mim sem me ver, deu as costas para a menina, mas sem retirar a lâmina que ainda feria sua pele fina. Lentamente seus passos atravessaram a distância até a porta levando a lâmina assassina que deslizava pela face de Yuki aprofundando sua ferida... Ela nem ao menos piscava enquanto o sangue pingava em suas roupas simples. Enfim o aço abandonou seu rosto deixando uma cicatriz que anos mais tarde mal se notaria, mas em sua alma a firmeza do aço permaneceu para sempre...