segunda-feira, janeiro 27, 2003

Labirintos de espelhos urbanos

Quando iniciei este blog, meses atrás, não achei que seria capaz de manter a idéia inicial dos devaneios diários, afinal, é devaneio a rodo! Ah! Mas basta um olhar mais atento na nossa cidade para descobrir um universo infinito de devaneios!
Como sempre a noite já não é mais jovem. A chuva enfeitou a cidade de reflexos, transbordou a Rodrigo de Freitas e colocou poças lamacentas no caminho dos pneus das bicicletas que se vêem obrigadas a cruzar as ruas escuras da madrugada bem lentamente para não enlamear seus pilotos.
A água que cai do céu é até bem vinda, beijos suaves e gelados da mãe Terra, mas a que respinga das ruas desta Morpork latina realmente não desperta o mesmo conforto!
Quanto mais devagar o mundo passa maior se torna a vida, pena que nossos carros sejam verdadeiros cometas que passam e ninguém vê, passam e nada vêem!
Ao largo vão desfilando os cenários da noite. A grande garça e seu tae-shi-shuan nas margens alagadas da Lagoa; mais na frente o camburão segue na contramão enquanto metralhadoras são apontadas para o velhinho ao volante do carro novo; cruzando o Flamengo sobre um viaduto os traços humanos invadem as narinas, ainda mais adiante o caminão de lixo carrega mais cheiros...
A cidade segue impessoal, nos apartamentos as paredes se tingem das mesmas cores enquanto os que permanecem acordados assistem ao mesmo canal, mas entre todas estas coisas sempre há uma luz, a que brilha nos olhos de uma criança que chora as lágrimas dos guerreiros que desafiam seus limites e transformam o mundo.