terça-feira, maio 04, 2004

Bosque

Vou seguindo a passos lentos pela calçada escura. Em algum lugar acima da copa das árvores a lua quase cheia me acompanha. Um morcego passa sobre a minha cabeça chamando meus olhos para os galhos trançados das árvores.
Elas assistem a noite passar mantendo-se acima de todas as coisas, sob suas folhagens todos os sons desaparecem e apenas o leve roçar das folhas e o sutil guincho dos morcegos perturbam a noite. Sobre seus galhos altos a trepadeira parasita se estende deixando cair longas raizes aéreas e um vento mais frio cruza o ar aparentemente a convite daqueles seres altivos, as árvores.
Durante o dia a luz intensa do sol se derrama sobre elas, mas durante a noite é de baixo que vem a luz esbranquiçada e artificial dos postes mostrando folhas verdes contra a escuridão da noite que domina o espaço entre os troncos enegrecidos.
Do fundo da escuridão além da luz esqualida da iluminação urbana quase podemos ouvir a respiração forte de seres a muito esquecidos que nos fitam do passado alheios ao nosso presente tão distante das supertições e crenças.
Continuo caminhando até deixar o abraço gelado dos vigias ocultos, pouco a pouco meus sentidos são invadidos pelos ruidos de vozes, motores de carros, depois ônibus e finalmente o odor de escapamentos. Diante de mim, do outro lado da rua brilha o letreiro verde iluminado do Bank Boston: estou novamente em Ipanema...